sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Menino que caiu numa fossa ficou com sequelas graves

Santiago Rodrigues era uma criança esperta, saudável e feliz até ao dia em que, há oito meses, o infortúnio bateu à porta desta família de Vale Carneiro, em Tomar. Menino sofreu uma paralisia cerebral grave após ter caído e estado durante algum tempo dentro de uma fossa de esgotos. Hoje não fala, não vê e não anda. No dia 14 de Maio de 2013, Santiago Nunes Rodrigues, de cinco anos, foi ao jardim-escola como habitualmente. Deixou um desenho de uma flor a meio. Disse à professora que o completava no dia seguinte, com mais calma. A avó, Maria Teresa, foi buscá-lo às 15h30 e, já em casa, pôs-se a ver os desenhos animados na televisão, um dos seus passatempos favoritos a par do desenho. Comeu um iogurte e foi brincar para o pátio da casa, na localidade de Vale Carneiro, freguesia de Casais, em Tomar. A avó observava-o pela janela, como sempre. A tarde ia a meio quando pediu pão com manteiga, que pousou em cima da bancada, para ir calçar umas botas de borracha. Havia lama na rua e sabia que não podia sujar as sapatilhas. A avó ainda lhe perguntou para que eram as botas. Respondeu apenas: “porque eu quero”. Na cozinha, a preparar o jantar, teve um pressentimento quando não o viu a brincar lá fora. Pediu à filha, Filipa, para ir ver do menino a casa das primas ou dos vizinhos gémeos. A aflição nunca mais os largou até se concretizarem os piores receios: a criança estava dentro da água de esgoto, no terreno de um vizinho. Eram já quase 20h00 quando uma prima deu o alerta porque lhe “cheirou a fossa”. Estava partida, gritou. O pai do menino não pensou duas vezes e, depois de arrastar o resto da tampa, atirou-se lá para dentro. Quando saiu, a criança estava fria e não respirava. “O meu filho está morto”, terá dito. Mas Santiago não morreu. Ninguém sabe, exactamente, quantos minutos terá estado dentro da fossa, sem que o cérebro recebesse oxigénio. Voltou a dar sinais de vida, após uma hora a receber assistência por parte da equipa do INEM. Oito meses depois do fatídico dia, a familia ainda não consegue explicar o que realmente aconteceu. Não se sabe se a tampa da fossa estava aberta ou foi remexida pela criança. As fitas da PSP continuam no local da tragédia. A avó do menino confessa que nunca mais lá foi e mal consegue olhar naquela direcção. “Tinha medo da estrada por causa dos carros mas nunca imaginei que tivesse este perigo aqui à porta. Eu já dizia que o tinham roubado”, recorda com voz trémula. Por ter estado bastante tempo no fundo da fossa, Santiago ficou com uma paralisia cerebral muito grave. Não fala, não vê, não anda e come através de uma sonda. Completou seis anos a 23 de Dezembro. Diagnóstico médico pouco animador Depois do acidente o menino esteve um mês e cinco dias internado nos Cuidados Intensivos do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, e mais oito dias na enfermaria. Seguiram-se quatro meses de terapia e reabilitação em Alcoitão. Em Outubro avisaram a família que ia ter alta. As más notícias vieram na segunda-feira, 13 de Janeiro, numa consulta de rotina de Neurologia. A médica disse que a criança pouco mais vai recuperar. A família recusa aceitar este diagnóstico. “O Santiago precisa de viver, de brincar e de ser feliz como os outros meninos”, refere a chorar. Santiago ainda conserva a audição e reage a pequenos estímulos, tais como música. A tia Filipa coloca uma das suas músicas preferidas a tocar no telemóvel e ele esboça um sorriso. Cada reacção é uma vitória. Também o olfacto não foi afectado e mostra alguma sensibilidade ao toque. É devido a estes sinais que a família acredita que, se devidamente estimulado, pode apresentar melhorias. Santiago frequenta, actualmente, o Centro de Integração e Reabilitação de Tomar (CIRE) mas, apesar de estar a ser bem tratado, a família pretendia que estivesse numa instituição onde pudesse ser mais estimulado e sujeito a outras terapias. Um tratamento no estrangeiro, onde a medicina já ganhou outro avanço, era outro dos desejos desta família tomarense. “O meu menino é um herói. Lutou pela vida quando todos a davam como perdida. Quem somos nós para desistir?”, atestam. Santiago ainda vai conseguir completar o desenho da flor que deixou a meio na escola, acreditam. O irmão mais novo, que nasceu em Dezembro, chama-se Salvador.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Um moinho como palco para um encontro de folclore

Manuel Simões e Manuel Samouco, elementos do Rancho Folclórico "Os Camponeses da Peralva", da Peralva, uma aldeia da freguesia de Paialvo, em Tomar acordaram às sete da manhã de sábado, 24 de Agosto, para pintar de fresco um moinho de vento que existe há 150 anos nesta aldeia. O vento forte que se fazia sentir no Casal do Perninha dificultou a tarefa mas, persistentes e unindo esforços, a meio da manhã já estavam a dar os últimos retoques no rodapé azul do moinho branco. Uma semana antes, já Manuel Samouco tinha andado no local com o tractor a limpar o terreno. Não menos importante, no interior, o proprietário Ílídio Silva, acompanhando por Nuno Fonseca e Paulo Ribeiro, desenvolviam esforços para colocar a pedra da mó, com cerca de 600 quilos, a funcionar em pleno para que o moinho volte a produzir farinha, tal como no tempo do seu avô José António da Silva. "O meu avô já tinha herdado isto do pai e foi passando de geração em geração. Como estava ao abandono, pensei em recuperá-lo, por dentro e por fora", conta, relembrando que era ali que brincava em criança. O resultado final pode ser apreciado no domingo, 1 de Setembro, a partir das 16 horas, durante o "I Encontro de Tocadores de Instrumentos Tradicionais" da Peralva.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Uma profissão que nos escolhe para o resto da vida Quando saiu a primeira edição de O MIRANTE, a 16 de Novembro de 1987, eu tinha onze anos e já praticava uma espécie de jornalismo de proximidade. Foi mais ou menos nessa altura que comecei a tirar fotografias aos clientes da tasquinha de comes e bebes que os meus pais têm nos arredores de Tomar, com uma máquina fotográfica descartável, que revelava com os trocos que tirava às escondidas da gaveta. Depois colava-as numa folha de papel cavalinho A3 e, por debaixo das mesmas, escrevia à mão o perfil do fotografado e quais os petiscos que ele mais apreciava. Fazia aquilo, por brincadeira, uma vez por mês e os clientes perguntavam sempre quando saia o próximo exemplar do “Jornal do Chinquilho”. A determinada altura um deles perguntou-me se podia ali colocar o número de telefone da sua agência de Seguros e passou a dar-me algum dinheiro em troca com o qual passei a pagar as fotografias e as fotocópias. Foi assim, daquela forma muito incipiente, que contactei pela primeira vez com a “indústria” do jornalismo. Foi assim que a profissão me escolheu para o resto da vida. Quis o destino que, vinte anos volvidos, viesse a trabalhar no jornal que é considerado como uma das maiores referências ao nível do jornalismo de proximidade não só no distrito de Santarém como no país. Agora já não escrevo para contar que o senhor Carlos que gosta de beber umas imperiais acompanhadas por tremoços depois de um dia de trabalho na fábrica de papel do Prado mas muita da minha prosa continua a debruçar-se sobre pessoas e sobre os problemas que as afectam. Pessoas comuns como aquela senhora das Curvaceiras, na freguesia rural de Paialvo, Tomar que, padecendo de uma doença genética degenerativa, não podia sair de casa porque as condições do terreno não eram propícias à cadeira de rodas manual em que se deslocava. Um grupo de cidadãos estava a tentar angariar três mil euros para conseguir comprar um equipamento eléctrico e assim melhorar a autonomia da Clementina Vicente. Após eu ter dado a notícia daquela iniciativa solidária uma empresa de Alcanena contactou O MIRANTE e garantiu o dinheiro em falta para a compra da cadeira. Sei que não consigo mudar o mundo mas também sei que muitas vezes, a aparente insignificância do que escrevo pode fazer a diferença na vida não só de uma pessoa como de toda uma comunidade. E é dessa esperança que me alimento diariamente enquanto cidadã e jornalista.