terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

“Puseram em cima da festa do Natal uma outra realidade: a festa do consumo”


Frutuoso Duarte Matias, 70 anos, é pároco de Tomar há quatro anos. Tem um discurso muito translúcido e emite opiniões que são, muitas vezes, uma pedrada no charco. Pessoa reservada, assume que não gosta de dar entrevistas e só após alguma insistência abriu uma excepção para conversar com O MIRANTE. Uma conversa que decorreu na sua sala de trabalho, na igreja de São João Baptista, numa tarde do único dia de folga semanal, a segunda-feira.


Estamos no Natal. O que acha da frase tantas vezes repetida nesta época de que “O Natal devia ser todos os dias”?
Acho muito bem desde que se entenda que o espírito de Natal é todos os dias. Mas o Natal é o nascimento – Natal significa nascimento – de uma pessoa muito concreta. Jesus de Nazaré que o povo de Israel, onde nasceu, reconheceu como o Messias e o enviado de Deus para dar a boa nova do amor de Deus a todos os homens. Nesse sentido, O natal é um acontecimento histórico de um dia concreto.

Há dúvidas em relação à data exacta do seu nascimento…Não sabemos exactamente o dia em concreto quando Ele nasceu. Os antigos não davam muita importância ao dia do nascimento. De resto, o calendário, quando Cristo nasceu, não era como o nosso. Não havia o dia 25 de Dezembro. A igreja escolheu o dia 25 de Dezembro porque era uma festa que já existia - a Festa do Sol Nascente – e como vemos que Cristo é que é o Sol, a luz que guia os homens celebramos o seu nascimento no dia em que o sol começa outra vez a crescer. Há um grupo de cristãos, mais do oriente que celebra o Natal uns dias depois. A 6 de Janeiro, o nosso dia de Reis.

Sente que no Natal as pessoas aproximam-se mais da fé e da igreja? Nota a igreja mais cheia?
Já foi mais. Hoje as pessoas celebram tudo muito individualmente. Preferem o seu lar, a sua família. Onde têm conforto, aquecimento, tudo de bom… As pessoas, em tudo na vida social, cada vez são mais (pausa) – eu não queria dizer mas … – são mais egoístas talvez e isolam-se muito mais. Celebram muito poucas coisas em conjunto. É por isso que hoje, mesmo no Natal, há menos pessoas nas igrejas do que há uns anos atrás. As pessoas enchem-se muito com as coisas que têm em casa e ficam-se por aí. Não dão um sentido cristão explícito, religioso a este acontecimento…

Á missa do galo vão mais pessoas mas por moda…Não muitas e as que vão, fazem-no por tradição. Outras vão também por um bocado de poesia. Mas também há quem vá por fé e por um sentimento religioso, infelizmente nem sempre muito esclarecido. Mas alguma coisa há…

Entrevista completa publicada na edição de 23 de Dezembro

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